AVANTE
Primeiro, aturar as piadas da família e dos amigos mais conservadores sobre o que parece ser uma clara vontade de ir abraçar os ideais comunistas. Depois, o nosso próprio divertimento a caminho de uma festa que sabemos política. Por fim, o recinto.
A primeira surpresa consiste na quantida gigantesca de jovens. Se a JCP tive um quarto daquela gente, o partido comunista português não estaria onde está. Sente-se uma onda... "freak", mal se entra. Ou antes, flower power. São as mochilas e os sacos de pôr a tiracolo de cores alucinadas, as sandálias de couro, o ar descontraído com que se anda sem camisola. Há uma Boa Onda, nesta festa. A solidariedade impera e encontramos sempre alguém que nos ajuda a encontrar isto ou aquilo. Já ninguém nos trata por "camarada" (embora os altifalantes façam a clara distinção "Avisam-se os camaradas, os amigos e os visitantes que..."), como antigamente.
A festa do Avante transformou-se num enorme encontro inter-geracional pela sobrevivência de alguns valores humanitários. Explicando melhor: apesar do esforço que o PCP faz para enfiar na cabeça dos militantes os seus anacronismos distorcidos, a maioria das pessoas move-se por Outra Coisa. Algo do campo da Paz, da Solidariedade e da Harmonia com a Natureza. Na verdade, se o comité Central não estivesse tão ancilosado, perceberia que o grosso dos visitantes não é seu Camarada e muito menos seu Amigo. Está-se tudo a cagar para a Luta contra O Pacote Laboral e contra a Maravilha de Governação dos Países Comunistas. Aqueles milhares de jovens celebravam o acto de estar vivo, sobretudo. E de partilharem em comunidade esse sentimento.
A Música, ontem, sábado, não foi grande coisa. Sobretudo no Palco 25 de Abril ( o palco principal). Os grupos eram esforçados, mas cansativos. E o concerto da Maria João e do Mário Laginha, talvez por causa do tamanho do espaço, também não teve nada de apelativo. Para os "Cabeças no Ar" que encerravam a coisa, não houve pachorra. Se calhar foi interessante. Não sei.
Contudo, houve coisas interessantes, no campo da world music e dos géneros mais alternativos. Acordeão e instrumentos de banda de Jazz (leia-se contrabaixos, sax...) mostraram-se bem mais interessantes do que os Grandes Eventos.
Também se come bem, por lá. Não sendo barato, contudo. A gastronomia dos locais mais variados do país, em jeito de amostra.
O pavilhão da Madeira levava 1.80 € por um cálice de poncha. E em homenagem ao Paulo Moreiras, pedi no pavilhão de Lisboa uma ginja: indescritível de aldrabice. Aí, sim, fui roubado.
Resumo: Vale a pena blindar os ouvidos à cassete e ir até à Quinta da Atalaia, na margem Sul do Tejo. Pelo sítio, pelo espírito dos visitantes e pela ideia quase invisível de existe um lado muito melhor dos portugueses do que aquele que nos é mostrado pelas televisões.
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